VIVE MELHOR QUEM SAMBA !!!

"Eu digo e até posso afirmar: vive melhor quem samba" (Candeia)

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Pensamento encadeado sob a amendoeira...

Embaixo de uma amendoeira durante um domingo de folga, deitada na esteira, esticando a coluna, descansando as pernas, pensando... No primeiro momento, aprecio a natureza. Que belo espetáculo! E poucos são os que param para assistir. Estamos sempre apressados, atarefados... Mas olhar para a copa de uma árvore é lindo demais. Gosto muito de olhar e ver as ramificações, pois a primeira analogia que me vem à cabeça é com os vasos sangüíneos que um dia tive que aprender nos livros e dissecando cadávares. Sempre começam muito calibrosos, os troncos e os grandes vasos que saem do coração. Depois vão se ramificando, se ramificando... Até ficarem bem fininhos e invisíveis a olho nu. No corpo, os vasos levam sangue pras células, que utilizam o oxigênio e jogam fora o gás carbônico. Nas árvores, circulam seivas que nutrem as folhas que são responsáveis pela fotossíntese e a transformação de gás carbônico em oxigênio. Daí Lavoisier vem pra lembrar que tudo se transforma! Menos o lixo do meu condomínio, em que apesar de haver quatro caçambas coloridas de azul, amarelo, vermelho ou verde, têm sempre em seu conteúdo misturados papéis, metais, vidros e plástico. E de que adiantaria a barbárie separar o lixo? Não existe coleta seletica efetiva! A analogia agora é com gestão em saúde, onde temos a micro e a macropolítica... Tem coisas que devem ser feitas pelo ministro da saúde, mas muitas outras que devem ser o papel de um agente comunitário, se falarmos em PSF. Porque o que eu conheço, ainda, é apenas o PMF de Niteróis. Que apesar de não ser o melhor do mundo, com seus muitos problemas, ainda dá de 100x0 em alguns municípios do estado do Rio. Muito do insucesso vem do macro (gestão pública em saúde, coleta de lixo seletiva como estratégia das empresas de coleta, incentivos governamentais), mas há muito que ser feito no micro (conscientização da população do seu papel). As pessoas ainda são muito egoístas, preguiçosas, não se cuidam, não previnem, se alimentam mal, não têm higiene, não fazem atividade física. Os religiosos só sabem orar e pedir a Deus uma ajuda enquanto esperam deitados para não cansar. Não conseguem ver o próximo como alguém com quem podem trocar: dar e receber. E assim vão ficando ansiosos... Sentindo os sintomas mais estranhos que livro nenhum de semiologia já descreveu. Mas querem um remédio milagroso para a solução de seus problemas. Sempre há um remédio ou um exame que vai resolver tudo. Nunca o auto-invetimento. E como cenário, temos a miséria, o desemprego, a fome, o maldito cigarro, o álcool, as propagandas de remedinhos na TV, o tráfico, a violência, a falta de diálogo, o analfabetismo, a desvalorização das pessoas, etc... As pessoas estão sempre esperando um salvador, os números sorteados da loteria, uma solução mágica de fora. Mas o que elas precisam mesmo é de ajuda para descobrir que a força e o segredo para a felicidade se encontra em coisas muito simples e que estão bem pertinho: dentro delas mesmas. Estar diariamente com pessoas assim é o meu trabalho. A minha grande angústia é querer ajudá-las a chegar nesta conclusão em que eu já cheguei. Mas, obviamente eu não consigo. Saber respeitar o momento de vida e de evolução de cada um, além das diferenças tem sido um aprendizado diário. Saber que há muito mais sobre vida a aprender do que os meus sentidos podem perceber é algo que de certa forma me acalenta. É como olhar através das folhas da amendoeira: o que será que tem em cima delas? Tenho a sensação que consigo ver mais do que os outros, mas não tudo. Sempre há algo obscuro ou sem resposta. Aprender que não é preciso viver do jeito que vivo ou ter o que tenho para ser feliz também é fantástico. Como deve ter sido viver de outro jeito em outras vidas? E o "pior", como será nas próximas? Às vezes dá um medo... Mas quando olho do lado da esteira, vejo que tem sempre alguém do meu lado! Sinto um abraço acolhedor. Esperança e confiança no alto para continuar a caminhada, assumindo, com humildade, que sou apenas um pedacinho ínfimo do planeta Terra, sem levar em consideração todos os desencarnados, de todas as outras moradas, deste e de outros sistemas solares... Nossa, como tem gente no mundo!!! É muita gente mesmo que a gente não conhece, já pensou nisso? E no galho da amendoeira vejo um ninho de andorinhas... Olha lá... Não tá vendo? Ali, ó... Ah se as andorinhas soubessem que força têm juntas!