VIVE MELHOR QUEM SAMBA !!!

"Eu digo e até posso afirmar: vive melhor quem samba" (Candeia)

terça-feira, 20 de julho de 2010

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Sambando, vivendo melhor...



Como um "simples" cd modifica a energia do amabiente? Toda vez que coloco "Terreiro Grande e Cristina Buarque cantam Candeia", começo a sorrir, fico com os olhos cheios de água, parece que estou dentro de uma roda de samba...

FALSA INSPIRAÇÃO
(Candeia)

O samba é brasileiro
É com pandeiro e violão
Hoje é consagrado
No terreiro e no salão
Até o sincopado
Tem o seu real valor
Pois dentro da cadência
A malemolência
Tem outro sabor
O samba de xaveco
É uma falsa inspiração
Sem telecoteco
É a mistificação
O samba é a voz do povo
Chegou, viu e venceu
E a voz do povo é a voz de Deus

Samba é poesia
É viver com alegria
É o olhar e o sorriso de uma criança
É paz amor
É o calor aredente cheio de esperança
Samba menina, samba moço
Que o samba é quente


Essa aí, lida é bonita, mas cantada é melhor ainda!!! 
Ouçam esse cd!!!!

Só assim eu me sinto contente...

Eu canto Samba

(Paulinho da Viola)


Eu canto samba
Porque só assim eu me sinto contente
Eu vou ao samba
Porque longe dele eu não posso viver
Com ele eu tenho de fato uma velha intimidade
Se fico sozinho ele vem me socorrer

Há muito tempo eu escuto esse papo furado
Dizendo que o samba acabou
Só se foi quando o dia clareou

O samba é alegria
Falando coisas da gente
Se você anda tristonho
No samba fica contente
Segure o choro criança
Vou te fazer um carinho
Levando um samba de leve
Nas cordas do meu cavaquinho

Ouvi essa aqui hoje, na voz do próprio Paulinho em sua gravação da MTV, e chorei! É o que sinto pelo samba! De verdade!!! Há quem fale que eu tenho que abrir a mente para outros estilos musicais, que sou muito focada em samba... Eu ouço outras coisas, mas "o meu negócio é samba"! Adoro a boa música brasileira, pouco conheço de internacionais... Mas ainda existe taaanto samba que não conheço, que não dá pra "perder" tempo com outras! Não posso fazer nada se o que me toca o coração é o samba e o que eu gosto de tocar é samba...

terça-feira, 6 de julho de 2010

Sobre inspiração e composição

Pra conquistar seu coração

(Luiz Carlos da Vila/Wanderley Monteiro)

Se o limite for o infinito
Vou subir até o pico do Everest
Nadar o oceano sem um grito
E de joelho atravessar o agreste
Faço isso tudo e muito mais
Pra te encontrar, te conquistar
E até provar que é minha paz
O inverso dos meus ais

Preto no branco num poema, vou por sim
E onde houver um mal começo por fim
Fazer de tudo pra mudar
Um novo mundo instalar
E com o mundo em minhas mãos
Onde houver talvez ou não eu vou sim
Com as próprias mãos andar a pé ao Bonfim

E num xaxim eu vou plantar
Um baita de um jequitibá
Enraizar mesmo sem chão
São Tomé vai crer sem olhar
E todo mundo vai cantar
Que eu conquistei teu coração


No final de um dia agitado, com minha mãe ao meu lado na direção, ouvimos esta aí de cima na voz de Beth Carvalho. Fiquei pensando no quanto gosto dessa música, letra e melodia... Quais são os elemntos necessários pra fazer alguém se inspirar e escrever assim??? Queria descobrir pois tenho tanta vontade de tentar fazer algo parecido... Gosto muito de escrever, mas sou da prosa e não da poesia. Também nunca exercitei a criação de melodias, até porque meu conhecimento de teoria musical é bem restrito. Toda vez que rascunho alguma música, acho muito medíocre. Tem tanto samba bom, tanta gente que em algum momento já traduziu em notas o que eu sinto ou já senti... Como compor a altura de Candeia, Cartola, Paulinho da Viola, Paulo César Pinheiro, Wanderley Monteiro, minha querida Teresa, e tantos outros? É claro que nem vou citar Chico Buarque, né? Muita covardia...

Ah, essa alma de artista encubada e reprimida nesta encarnação... Ou seria uma necessidade de ser artista? Não artista no sentido global ou glamuroso, mas sim querendo me comunicar com o mundo através de outras linguagens, demonstrando minha sensibilidade fina... Quantos vezes vou às lágrimas durante uma apresentação musical! Isso nãosei explicar.

Parei com as aulas de canto temporariamente e estou proibida de pegar no pandeiro, o que já vem me causando uma síndrome de abstnência.

Mas acredito na eternidade, em todo o tempo do mundo...

domingo, 4 de julho de 2010

Texto de Rubem Alves

Tênis x Frescobol

Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.

Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: ‘Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: ‘Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?\' Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.’

Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O império dos sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: ‘Eu te amo, eu te amo...’ Barthes advertia: ‘Passada a primeira confissão, ‘eu te amo\' não quer dizer mais nada.’ É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: ‘Erótica é a alma.’

O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.

O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas; e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...

A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...

Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Camus anotava no seu diário pequenos fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos Primeiros cadernos, é sobre este jogo de tênis:
‘Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem valor e gosta de brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro esposo. Desta forma marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o ódio. Exemplo: com um sorriso: ‘Não se faça mais estúpido do que é, meu amigo\'. A galeria torce e sorri pouco à vontade. Ele cora, aproxima-se dela, beija-lhe a mão suspirando: ‘Tens razão, minha querida\'. A situação está salva e o ódio vai aumentando.’

Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.

Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...(O retorno e terno, p. 51.)

(...)


fonte: http://www.rubemalves.com.br/tenisfrescobol.htm