Marcelina e o doutor especial

Com uma dor em aperto retroesternal que irradia para a garganta deixando uma sensação de "nó", inibindo o sorriso, deixando os olhos baixos, sem relação com esforço físico, aparecendo em repouso, ela vai ao médico porque não está se sentindo bem... Um acadêmico menos avisado ou um residente pouco experiente poderiam confundir o quadro clínico descrito acima com angina instável ou atípica. Entupiriam a jovem de remédios: isordil sublingual!!! Mas, felizmente, ela encontrou um doutor experiente que fala sua língua... Depois de ouvir as palavras de Marcelina, começou a cantarolar:

"Ai! Como dói a dor

Como dói a dor de amar

Quem se desencantou

Sabe o que é chorar

Nesse mundo não tem professor

Pra matéria do amor ensinar

Nem tão pouco se encontra doutor

Dor de amor é difícil curar"

(Dor de Amor, de Arlindo Cruz - Zeca Pagodinho - Acyr Marques)

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Marcelina abre um sorriso. O doutor percebeu que é coisa do coração... Mas ela não está, efetivamente, amando. Gostaria de estar! Mas não sabe por que todos namoram menos ela. Não tem lá grandes problemas de relacionamento com as pessoas. Pelo contrário, é muito bem quista por onde passa. "O que será que há de errado comigo?" pensa a menina. Não consegue mais ver cor nem mesmo nas rodas de samba ... Chega um momento na vida em que estar sozinha 24h por dia é chato. Sim, seus amigos são legais... Mas nada melhor do que ter alguém para ligar e dizer que chegou em casa bem, esperando ansioso e preocupado com a longa viagem pelo perigoso Rio de Janeiro de hoje em dia. Além, é claro, do "Boa noite, durma bem" com voz doce e carinhosa...

E então ela devolve, continuando o diálogo musical com este doutor especial:

"Solidão é lava

Que cobre tudo

Amargura em minha boca

Sorri seus dentes de chumbo

Solidão palavra

Cavada no coração

Resignado e mudo

No compasso da desilusão

Desilusão, desilusão

Danço eu dança você

Na dança da solidão"

(Dança da solidão de Paulinho da Viola)