VIVE MELHOR QUEM SAMBA !!!

"Eu digo e até posso afirmar: vive melhor quem samba" (Candeia)

quarta-feira, 19 de outubro de 2005

Ser humano sendo humano

De onde eu estava voltando, não em lembro... Certamente, do Centro da cidade, no meu tradicional companheiro de viagens para casa, o famigerado 383, (Tiradentes x Realengo) que me conecta com o mundo cultural! Desta vez, no entanto, não vinha da praça Tiradentes... Agora me lembro: na verdade estava no 485, voltando para o plantão no Fundão, depois de ter assistido “Doutores da Alegria” no cinema. Aliás, este documentário é muito bom, floreado de exemplos de como o “Clow” pode arrancar sorrisos de forma tão simples. Suas palhaçadas, baseadas na Besteirologia são demais, porém, o que mais encanta é ver a reação a este contato das crianças internadas. Fora que todo o hospital fica com um ar mais leve, diferente, cativado...

Mas, voltando às minhas histórias de ônibus, nesta última quinta, aconteceu uma que me fez lembrar bastante as que Maricota escreve em seu sítio... Ela sempre presenteia os leitores com crônicas reais que registram seres humanos sendo humanos, no sentido mais essencial da palavra. Essa moça tem um olhar diferente sobre o mundo, uma sensibilidade de arrepiar.

Bem, eu estava contente com a tarde bacana que tive, mas como nada é perfeito, óbvio que não tinha um lugarzinho para eu sentar e aliviar as pernas enquanto o motorista do ônibus brigava com os demais num engarrafamento básico da hora do rush... E, então, fiquei em pé mesmo... Que remédio?

O lugar que escolhi para me apoiar ficava de frente a dois rapazes. Calados. Mas bastante comunicativos... Não, meu povo, ainda não desenvolvi a mediunidade o suficiente para ler os pensamentos alheios. Em pouco tempo percebi que ambos deviam ser surdos-mudos e que usavam a linguagem dos sinais. E, observadora e curiosa como sou, ficava olhando de rabo de olho... Tentava decifrar, entender alguma mensagem, que, em nenhum momento era para mim, sempre receosa deles perceberem que eu prestava atenção. Desviava o olhar muitas vezes. Tarde demais: eles já tinham percebido! Claro, não é? Todo mundo sabe que os deficientes de algum dos sentidos logo desenvolvem mais algum outro! Expressão facial para eles é tudo... Então foi bem fácil me entregar.

A confirmação absoluta de que eu estava a par da “conversa” foi quando um deles, o mais bonitinho, diga-se de passagem, fez algum movimento que dizia respeito a outro passageiro bem estranho sentado logo ali na frente deles... E eu não agüentei, pois, depois de muito ter disfarçado, de muito não ter entendido da sua linguagem, captei logo a mensagem que me fez rir, quase gargalhar... Afinal, tinha que manter a pose, porque o papo ali nunca tinha sido comigo.

A esta altura eles já sabiam que eu estava gostando... Toda hora olhavam para cima para saber se eu ainda prestava atenção e eu, sem graça, fui aos poucos desviando o olhar, prestando atenção em outras coisas no ônibus e fora dele. Gostava de fazer umas caras enigmáticas, para aguçar a curiosidade deles, sem ao menos ter motivo nenhum para isso. Tipo: olhava para a rua, para trás, comecei a esboçar na boca letras de música... E não olhei mais para eles.

Até que chega a hora dos rapazes se dirigirem para a porta traseira do ônibus: seu ponto já seria o próximo! O que estava na janela, mais simpático e que mais olhava pra mim, ao se levantar, fez questão de me oferecer o lugar olhando nos olhos e com um sorriso... Retribuí com outro. Foi o ônibus parar, eles descerem, eu me sentar e olhar para fora a sua procura, para o último contato, um “tchauzinho” com a mão. Qual não foi a minha surpresa, ele também me procurava. E, ao me ver, sorriu, apontou para mim e depois espalmou a mão direita num movimento circular no sentido anti-horário em frente a sua própria face. Eu já conhecia o significado deste sinal. Mas ainda que eu não soubesse, seria fácil ler nos seus lábios a tradução: “- Bonita!”.

Não estava com o dia perdido. Mas já seria motivo suficiente para ganhá-lo! Julgo serem essas pessoas bem mais sensíveis e enxergarem uma beleza maior do que aquela que realmente apresento pro mundo, isto é, a essência. Fiquei com uma sensação estranha de que poderia ter sido bem legal ter tentado conversar mais com eles e que poderíamos ser amigos... A gente, muitas ezes, perde grandes oportunidades de interagir com o próximo...

3 comentários:

Anônimo disse...

isso pede um fundo musical de Cartola: Chora, disfarça e chora....(rsrsrsrsrs)

Mariana Mesquita disse...

Não concordo.
Você não é bonita!
Você é LINDA!
Quando eu te digo que você é minha irmã gêmea... Hehehe.
Adorei o post e os elogios, mais ainda.
Um cheiro.

Mariana Mesquita disse...

(Acho que quando você ficar mais velha, pode desenvolver a doença de que sofro - falta de simancol - e aí, em uma situação semelhante, você não ia só ficar prestando atenção não -- você ia CONVERSAR com eles! Hehehehe)