VIVE MELHOR QUEM SAMBA !!!

"Eu digo e até posso afirmar: vive melhor quem samba" (Candeia)

quinta-feira, 7 de abril de 2005

Balançando com a Pediatria? Eu?

Desde pequena eu gosto das crianças. Tenho paciência e criatividade para brincar com elas. Lembro-me que sempre era convocada a distraí-las nas festinhas de adulto e me integrava bem com os recreadores das infantis. Até aula de evangelização já dei para "pestinhas" de 7-8 anos de comunidade carante, por 2 anos e meio. Contudo, Pediatria sempre foi umas das últimas opções... Porque cuidar de criança doente é diferente de brincar com criança saudável.
Estou nas semanas finais do rotatório de Pediatria no Internato. Isto significa que se, no fim do ano, eu já estiver resolvida por Clínica Médica, Medicina de Família ou qualquer outra especialidade mais irreverente, nunca mais poderei estar com crianças dentro de uma enfermaria. Particularmente, nunca fui muito fã de enfermaria... O clima do ambulatório é mais ameno, uma vez que os casos graves é que necessitam de internação. Imaginava que estar dentro de uma enfermaria pediátrica fosse uma das piores experiências de um médico, pois alguém como eu, que curte brincar com os pequenos (e com os grandes também!), não poderia tolerar o cuidado que se deve ter com uma criança doente.
O que aconteceu comigo, gradativamente, foi uma moderada dessensibilização com a dor do próximo, por um motivo simples: alguém tem que ter sangue frio para resolver a situação, melhor ainda se for um médico:-). Comecei há, uns dois anos, sendo a acadêmica corajosa e sempre escalada para suturar o supercílio ou o queixo de crianças, na emergência do Souza Aguiar. Não sei por que as crianças batem tanto com a cabeça... Só sei que eu nunca tive "peninha" e ficava chateada era com os pais frouxos que não conseguiam seguarar a criança. A Enfermagem tem uma técnica de "embrulhar" com lençol meus pequenos pacientes como múmias, a fim de restringir seus movimentos, pois o mais importante é não machucá-los com agulhas ao se movimentarem. De forma alguma o choro deles me incomodava. Este, muitas vezes, era amenizado com uma explicação clara, sucinta e confiável sobre todos os passos que seriam feitos para fechar a ferida...
Depois passei um tempo na emergência pediátrica do Miguel Couto. Por mais estressante que seja atender tantos casos ambulatoriais neste setor, a sala pediátrica é muito mais agradável do que o Pronto Socorro de adulto, por inúmeos motivos, como por exemplo o cheiro... Logo peguei algumas manhas de pediatra, porque nem tudo que a gente aprende para adultos se adapta tão fácil às crianças. Ou seja, perdi o medo de examiná-las.
Mas, voltando à enfermaria, eu achei que sofreria muito com as "criancinhas pobrezinhas doentinhas". Claro que há casos muito sérios e instáveis. Mas pela sua ingenuidade, pureza e sua suposta incapacidade de perceber o problema, as crianças com o quadro clínico de melhor evolução estão sempre a encher o nosso dia de alegria, nos surpreendendo com suas frases, brincadeiras e reações, que muitas vezes contrastam com o seu prognóstico ruim. Bate um sentimento estranho quando percebemos que ela tem poucos anos de vida.
Mas, enquanto eu pensava nessa parte ruim, que atrapalha bastante o meu "querer ser médica", ouço o som de um pandeiro! Um violão... Sambista que sou, saio correndo pelo corredor para saber do que se trata: será uma roda de samba em pleno IPPMG? Não! São umas figurinhas estranhas e engraçadas. Vestem-se com roupa excêntrica e colorida sob um jaleco branco. Tem um aumento de volume no nariz, bastante hiperemiado(vermelho)... E seguem fazendo um monte de besteiras e bobeiras com quem quer que passe por eles, sempre cheios de criatividade...Quem são? OS DOUTORES DA ALEGRIA!
Um dia desses, fiquei de fora da enfermaria, olhando pelo vidro o trabalho deles. Conseguem arrancar muitos sorrisos e integrar os pequenos mais debilitados nas suas brincadeiras que se baseiam na besteirologia! Correram lágrimas no meu rosto. Esse tipo de coisa me faz querer continuar! Fazer o diagnóstico é importante. Trocar carinho com eles é muito mais!
Só que nesta altura do campeonato, escolher Pediatria vai me dar muito trabalho... Especialidade concorrida demais... Mercado nem tão amplo assim... Balançando com a Pediatria? Eu?

DOUTORES DA ALEGRIA: VIDE BULA (abaixo)
(extraído do site www.doutoresdaalegria.org.br)


Doutores da Alegria - Arte, Formação e Desenvolvimento

Uso infantil

Composição:
Humor..............................................................................100%
Formação artística profissional e contínua.......................................................100%
Sistematização e disponibilização de conhecimento/ Centro de Estudos..100%
Administração e captação de recursos eficientes..........................................100%
Informações históricas:
Em 1986, Michael Christensen, um palhaço americano, diretor do Big Apple Circus de Nova Iorque, apresentava-se numa comemoração num hospital daquela cidade, quando pediu para visitar as crianças internadas que não puderam participar do evento. Improvisando, substituiu as imagens da internação por outras alegres e engraçadas. Essa foi a semente da Clown Care Unit™, grupo de artistas especialmente treinados para levar alegria a crianças internadas em hospitais de Nova Iorque.
Em 1988 Wellington Nogueira passou a integrar a trupe americana. Voltando ao Brasil, em 1991, resolveu tentar aqui um projeto parecido, enquanto ex-colegas faziam o mesmo na França (Le Rire Medecin) e Alemanha (Die Klown Doktoren). Os preparativos deram um trabalho danado, mas valeu: em setembro daquele ano, numa luminosa iniciativa do Hospital e Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, em São Paulo (hoje Hospital da Criança), teve início nosso programa.
Informações técnicas:
Nossa missão é ser uma organização proeminentemente dedicada a levar alegria a crianças hospitalizadas, seus pais e profissionais de saúde, através da arte do palhaço, nutrindo esta forma de expressão como meio de enriquecimento da experiência humana.
Somos uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que realiza cerca de 50 mil visitas por ano a crianças internadas em hospitais de São Paulo, Rio de Janeiro e Recife.
Indicações:
Traumas ligados à hospitalização infantil: perda de controle sobre o corpo e a vida; atitudes negativas em relação às doenças e à recuperação.
Contra-indicações:
Não há.
Posologia:
A besteirologia deve ser aplicada diariamente até que o paciente não saiba mais como ficar triste. É remédio para a vida toda.


3 comentários:

Anônimo disse...

Acho que você tá mais a fim de ser uma "doutora da alegria" do que pediatra...

Anônimo disse...

Com toda essa alegria cheguie as lágrimas, só de pensar como é bom ver gente assim, podem atém não curar, mas ajudam muito pessoas como vc, médicos muito incrédulos e indecisos....

Anônimo disse...

Te contei que to indo contar historinha p eles? Minha vida ficou muito melhor depois que comecei a conviver diariamente com esses pequeninos. Aliás, cada vez mais tenho convivido com crianças, malucos e cachorros e me afastando a cada dia dos "adultos normais"! Pena é enxergar a sombra da morte em cada pcte da minha enfermaria...