Passeando na caixa verde de bolinhas lilases

Tem mais samba
Chico Buarque - 1964

Tem mais samba no encontro que na espera
Tem mais samba a maldade que a ferida
Tem mais samba no porto que na vela
Tem mais samba o perdão que a despedida
Tem mais samba nas mãos do que nos olhos
Tem mais samba no chão do que na lua
Tem mais samba no homem que trabalha
Tem mais samba no som que vem da rua
Tem mais samba no peito de quem chora
Tem mais samba no pranto de quem vê
Que o bom samba não tem lugar nem hora
O coração de fora
Samba sem querer

Vem que passa
Teu sofrer
Se todo mundo sambasse
Seria tão fácil viver

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(Se todo mundo seguisse o refrão, a violência diminuiria, os mensalões seriam motivo de vergonha, não haveria crueldade entre os homens, etc... Acho que o mundo é assim porque o samba só surgiu no final do século XIX e início do século XX! Samba é remédio para todos os males... Vive melhor quem samba!)

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Estava eu, aqui em casa, mexendono meu violão (que é tudo que sei fazer com ele) ... Ouço uma buzina: quem chega é meu primo Marcus, já citado aqui outras vezes. Me ajuda a afiná-lo... Começa a tocar... Mesmo sem porte, pego meu tamborim e a gente faz um som gostoso, sentados na cama do meu quarto.

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Sobre ela, há uma estante de livros... Alguns que foram devorados... Muitos que não li... Muitos que comecei e não terminei (3 ou 4 vezes)... Dos mais grossos (de medicina, claro) aos mais finos (samba, literatura, religiosos...). Daí lembrei de uns outros guardados mais carinhosa e cuidadosamente numa caixa enorme, verde com bolinhas lilases ( não estou brincando: foi presente de aniversário da Aline!)... Abri e redescobri livros comprados (ou recebidos) há tempos... "Heranças do Samba"; "Rio Botequim"; "Geografia do Samba" e outros... Mas o que busquei para passear pelas folhas foi o "Chico Buarque - Otempo e o artista", catálogo da exposição que aconteceu na Biblioteca Nacional em homenagem aos seus 60 anos...

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Que delícia percorrer as páginas... Ver a história do Chico! Lembrei que estive, mesmo, na exposição, vendo originais e manuscritos de canções que o mundo canta... A carta que Vinícius escreve ao "Chiquérrimo" fazendo modificações na letra de "Valsinha" e a resposta deste justificando-se e cheio de intimidade com o poeta... Engraçado ver que a versão do Chico é, mesmo, a mais "redondinha". Até poderia reproduzir trechos, caso as letras da foto das cartas no livro fossem um tanto quanto maiorezinhas ou se tivesse em meu poder uma lupa.

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Li algumas passagens para o Marcus... Bom dividir coisas boas com as pessoas por quem temos apreço! Quando chegar a minha coleção recém-lançada de 3 DVD´s sobre o Chico, então, vão ser várias sessões aqui em casa! Mas, por enquanto, ficarei apenas na vontade... Pelo menos isso tudo serviu para nascer o compromisso (ou a intenção) de ler um capítulo por dia, que é muito mais do que eu tenho lido ultimamente...

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Deixo aos amigos esta bela música que é "Valsinha"!

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Valsinha
Vinicius de Moraes e Chico Buarque -1970

Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar

Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar

E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade enfim se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais

Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz